A minha morada fica em cima da lama em tempo de enchente…
Nessa época todos vão embora, só fica a gente…
Agente que nasceu vendo o barranco cair
Agente que rema, que planta que sofre, mas não sai daqui.
Tudo fica inundado, água por todas as partes…
Meus bichos em cima da maromba
Minhas fruteiras de baixo do rio
Minha rede perto da comieira
Na mesa, um bule de café, um peixe assado e o coração cheio de fé…
Da janela espio com lágrimas nos olhos, o roçado virar igapó…
Os filhos e a mulher vão pra cidade
E eu, aqui fico só….
Minha rotina é pescar, cuidar do pouco, platar só depois que secar…
A noite chuvosa, céu sem estrelas
Na Aurora da madrugada o frio que a rede não dá conta…
Mas não deixo, meu pedaço de lama…
No verão de tudo dá…
Banana, milho melancia e cara…
Os campos verdinhos, os bichos a pastar
Muita fartura na mesa, no lago e no campo
A curuminzada embiocando lá na ponte
A mulher do meu lado, carinhos aos montes
Aqui na várzea é complicado viver
Tem que a natureza compreender
Seu ciclo renova e se torna mais produtiva
As terras que caem, ressurgem como praias férteis e deixa o caboclo mais ativo.
Joilson Souza
Poeta de Novo Remanso

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